V04C02 - DENTRO DE UM SONHO DOCE E GENTIL - PARTE 02

Parte 02 - Os estrangeiros

Willem sabia que não podia mais lutar. Ele percebeu que ele morreria se ele alguma vez tentasse ficar no campo de batalha. Ele mesmo aprendeu a ver o lado positivo disso: enquanto as meninas partiam para lutar, ele podia vê-las na segurança de casa.

No entanto, quando a aeronave Plantaginesta estava sob ataque, Willem escolheu lutar tão naturalmente. Ele escolheu deixar de lado a adormecida Chtholly, e colocar seu Venenum em chamas e enfrentar o inimigo. Quando conheceu Rhantolk no campo de batalha, ela disse que ele estava tentando se suicidar usando Chtholly como uma desculpa. Sua descrição não poderia ter expressado suas ações na época com mais precisão.

Willem queria morrer lá fora. Ele queria jogar fora tudo, exceto sua determinação de proteger as meninas. Ele usou o campo de batalha para satisfazer seus desejos egoístas, pisoteando a parte dele que queria simplesmente esperar o retorno das meninas.

Ele fez tudo o que pôde, e até mesmo algumas coisas que ele não poderia ter feito. Pela primeira vez em um tempo, seu Venenum inflamou-se com todo o potencial. Ele ouviu os sons de seu próprio sangue fervendo e queimando a carne. Se ele fosse morrer lutando, não importava o que fosse, não tinha como voltar atrás. E uma vez que ele não podia mais lutar, nem a dor nem o sofrimento importaria. Ele foi com tudo.

E então, seu desejo se tornou realidade. O 2° técnico de armas encantadas da Winged Guard e gerente do armazém de fadas, Willem Kmetsch, perdeu sua vida durante a intensa batalha. Ou, pelo menos, é o que supostamente aconteceu.

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Os pássaros estavam cantarolando suas pequenas e bonitas canções. Uma manhã agradável amanheceu.

Sentado no telhado do orfanato, Willem abafou um bocejo. Então, com olhos ligeiramente lacrimejantes, ele examinou a área. A cidade familiar diante dele parecia exatamente como ele se lembrava dela. O pedaço de verde na distância marcou a fazenda de Adam. Em frente a ele estava a capela. Os edifícios de tijolos de várias cores nas proximidades eram apartamentos baratos, e na borda do aglomerado, uma bandeira vermelha balançando ao vento significava a Guilda dos Aventureiros. E, além disso, depois da vala de irrigação, estava o centro da cidade de Gomag.

Pilares de fumaça subiam de algumas das chaminés à vista. Os moradores da cidade começavam a preparar o café da manhã. Os humanos do mundo estavam se preparando para viver outro dia.

Claro, não havia nenhuma maneira de tudo isso ser real. A cidade diante dos olhos de Willem, juntamente com o Emnetwyte que prosperaram ali, pereceram há muito tempo atrás. Mais de 500 anos atrás, de acordo com os livros de história. Os invasores chamados de 'Bestas' apareceram bem no meio da capital imperial dos humanos, dentro do palácio do rei. Elas eram terrivelmente fortes, ainda mais terrivelmente numerosas, e também rápidas. Elas devoraram o mundo a um ritmo inigualável por qualquer exército que já andou na terra. Em apenas alguns dias, muitas das principais cidades e estados que faziam parte do império desapareceram.

Mas não só o Emnetwyte desapareceu. As Bestas consumiram tudo à vista sem discriminação. Grama e árvores, animais e insetos, Elfos e todas as outras raças que estavam no caminho das Bestas. Elas destruíram tudo, como se simplesmente fosse um crime imperdoável para elas.

A terra real agora não era mais do que uma terra desolada, onde as únicas coisas que se moviam eram as tempestades de areia cinzentas. Os poucos sobreviventes da feroz fúria das Bestas escaparam há muito tempo para ilhas flutuantes no céu sob a liderança do Grande Sábio e refizeram a civilização de novo. Essas raças que não tiveram a sorte de ter conseguido a busca de refúgio foram, claro, extintas.

[Droga]. Willem jurou discretamente o suficiente para que ninguém mais ouvisse.

Os humanos já haviam desaparecido, junto com a cidade natal. Willem repetiu isso para si mesmo repetidamente. O cenário que se espalhava diante de seus olhos não era mais do que algo como um diário. Despertou velhas lembranças e um sentimento nostálgico nele, mas elas existiram apenas no passado. O lugar para onde ele precisava retornar, a casa que ele precisava voltar, não estava aqui. Estava lá em cima, distante, no céu.

[É grande]. Nephren sentou-se ao lado dele e começou a falar na linguagem comum de Règles Ailés. [Qual o número dessa ilha?].

[Por que você está me perguntando?].

[Parece que você sabe onde isso é].

A declaração de Nephren foi estranhamente difícil de confirmar ou negar. [Esta é a cidade de Gomag, parte do império. O prédio abaixo de nós é o Orfanato Comemorativo de Foreigner, construído e administrado pelo próprio Nils D Foreigner da 18ª geração Regal Brave].

O rosto de Nephren, que raramente mostrava qualquer expressão, ficou perturbada com a dúvida. [Um Brave gerenciando um orfanato? Nunca ouvi isso antes... Mas de qualquer forma, se estamos no império, isso significa que esta é a 6ª ilha?].

[Não sei sobre você, mas nunca ouvi falar de um Brave em Règles Ailés. Esta é a terra}.

O olhar de Nephren ficou ainda mais perturbado. Foi um pouco divertido.

[Mas não há mais Braves na terra, certo?], ela perguntou.

[Bem, esse é o problema. Tudo na terra foi destruído há 500 anos], Willem respondeu enquanto olhava ao redor. [Mas isso é sem dúvida a mesma cidade natal de minhas memórias].

Seguindo o exemplo, Nephren também examinou os arredores. [... Então esta é a terra antiga].

[Correta].

[Existe outra terra abaixo desta?].

A pergunta de Nephren parecia um pouco estranha, mas Willem entendeu o que queria dizer. Tendo vivido em Règles Ailés durante toda sua vida, ela se acostumou com as ilhas flutuantes e seus espaços limitados. Se você andasse um pouco, você se depararia com a borda, e se você olhar para baixo lá, você veria a terra cinzenta abaixo. Isso era senso comum para ela. O conceito de uma vasta paisagem fértil que se estende infinitamente em todas as direções, embora talvez vagamente compreensível, provavelmente ultrapassou o que jamais imaginara.

[Aquela montanha parece estar muito longe], disse Nephren enquanto apontava na distância.

[Com certeza. A partir daqui até lá, pode se dizer que é equivalente ao comprimento da 68ª Ilha].

[E além dessa montanha, a terra continua?]

[Sim, continua. Cerca de 2 dias de distância, há uma cidade muito grande]. Willem apresentou um mapa mental do império. [Depois disso, são campos de cereais por um tempo, então você atravessa um rio e há uma enorme floresta e depois uma cordilheira... Depois disso se torna uma zona de guerra... Território disputado com os Elfos].

[... Me faz sentir um pouco desconfortável].

[Ah, eu sei do que você está falando. Isso é o que acontece quando você tenta pensar sobre algo tão ridicularmente grande].

[Mas a terra já caiu em ruína].

[Correta].

[Então, o que é tudo isso?].

[Provavelmente...].

Willem olhou para o peito. Ele podia ver o leve brilho do Venenum emanando do fragmento de metal pendurado em seu pescoço, o talismã de idioma único, que tinha o poder de transmitir própria vontade através de palavras. Só exigia uma pequena quantidade de Venenum do usuário para ativar. Era realmente um pequeno aparelho conveniente, mas tinha algumas desvantagens.

Como mentiras ou insultos que são inofensivos quando guardados a si mesmo, há ataques que só se tornam efetivos quando transmitidos ao alvo. Compreender todas as línguas significa que todos esses ataques podem atingi-lo diretamente. Enquanto o talismã de Willem permanecesse ativado, ele aceitaria todas as mensagens recebidas sem qualquer tipo de processo de triagem, reduzindo consideravelmente sua resistência a qualquer tipo de ataque de interferência mental. Ele havia se esquecido completamente disso, uma vez que não representava ameaça ao viver em Règles Ailés.

O talismã agora estava ativado contra a vontade de Willem. O que isso significa?

[... Provavelmente é um sonho].

Nephren lançou lhe um olhar frio.

[Espere, não, não, não é apenas um sonho antigo qualquer. Quero dizer, nós somos os alvos de algum tipo de ataque].

Quando Willem percorreu a terra como um Quasi Brave, ele encontrou alguns Demônios que usavam esses truques. Os demônios eram uma raça dedicada a corromper o Emnetwyte. Eles seduziam os seres humanos com vários esquemas na tentativa de conseguir que seu alvo jogasse fora seu autocontrole ou fé. Um desses planos era um ataque mental que utilizava um mundo de sonhos.

[Um mundo de fantasia construído sobre as memórias da vítima, feito para replicar a realidade com uma precisão quase perfeita. O objetivo é fazer da vítima um residente permanente do mundo imaginário. Tenha cuidado. No segundo que perdermos o desejo de escapar daqui, eles ganham], explicou Willem.

[Então, esse sonho parece muito com a terra antiga por que...].

[Eles provavelmente pensaram que eu iria cair apenas por ver este lugar].

Na verdade, foi um ataque bastante eficaz. Apenas sentado no telhado e olhando ao redor, um sentimento quente e nostálgico avançou sobre Willem, quase parecia derreter seu coração. Mas enquanto ele reconhecesse que era de fato um ataque, e não a realidade, ele podia resistir.

[Um mundo de sonhos...]. Nephren murmurou e beliscou sua própria bochecha. [Ai. Isso realmente é um sonho?]. Lágrimas começaram a aparecer nos olhos dela.

[Bem, o objetivo é que é um sonho que você nunca acorda dele, então não seremos capazes de sair tão facilmente].

[Então, o que acontece se não fazemos nada?].

[O objetivo deles é nos fazer completos moradores deste mundo. Para conseguir isso, eles vão mexer com o mundo e nos forçar a reagir].

[Brincar com o mundo?]

[Eles são os criadores deste mundo. Além de interferir diretamente com nós, eles podem fazer praticamente tudo o que querem usando nossas memórias. Havia algumas espécies de Demônios que se especializaram nesse tipo de tentação. Cada um deles tinha seus próprios métodos. O Aeshma gradualmente matava todas as pessoas no sonho, os Bufas atacariam diretamente, e o Mammon lhe daria um monte de dinheiro e joias. Eu também lutei com uma Succubus uma vez...].

A Succubus corromperia seu alvo principalmente por satisfazer os desejos sexuais. Então, o mundo dos sonhos em que Willem ficou preso durante sua luta estava transbordando com esse tipo de tentações. Foi... Bem, Willem não queria exatamente explicar os detalhes a Nephren. (Por pouco tempo depois dessa luta, ele não conseguia fazer contato visual com Lillia ou Emissa).

[De qualquer forma, seguindo em frente...].

[O que a Succubus fez?]. Nephren perguntou, para o desgosto de Willem.

[Seguindo em frente...]. Ele mudou de assunto à força. [Eu não sei quem é nosso inimigo, mas seu alvo é quase definitivamente eu].

Willem achava difícil imaginar que a Nephren sentada ao lado dele era uma farsa. Ela não pertencia ao cenário do sonho, então, provavelmente, a verdadeira Nephren acabou por ficar presa nessa bagunça junto com ele.

[Então, basicamente, enquanto eu ainda tiver o desejo de escapar, nosso inimigo tentará interferir com este mundo para quebrar meu espírito. Essa é a nossa chance. Precisamos descobrir quem é ele e atacar].

[Precisamos atacar de volta?]. Nephren perguntou.

[Claro. Se nos ficarmos sentados, nunca iremos sair daqui].

[Precisamos escapar?].

[...].

[Se sairmos daqui, não demorará muito para nós dois morrermos].

Nephren provavelmente estava certa. Como Willem e Nephren estavam morrendo na areia cinzenta, alguém tinha capturado suas almas e as trouxe a este mundo de sonhos. Isso significava que havia uma grande possibilidade de que seus corpos físicos já se tornaram cadáveres no mundo real. Ou talvez o tempo que passaram no mundo dos sonhos representava apenas uma fração de segundo no mundo real. Nesse caso, quando eles escapassem do sonho, eles retornariam para seus eus quase mortos, e depois morreriam alguns segundos depois.

[Nunca voltaremos para casa], disse Nephren.

[... Esse não é o problema], disse Willem, praticamente para si mesmo. [Não deixe pensamentos estranhos entrarem em sua cabeça. Se você perder a vontade de escapar, você se tornará uma residente desse mundo dos sonhos para a eternidade. Só porque sou o alvo do inimigo não significa que você esteja segura].

Nephren assentiu e ficou em silêncio.

Pergunto-me o que há de errado com ela, pensou Willem. Nephren sempre foi uma garota bastante estranha, mas a estranheza que Willem sentia nela agora era um tipo diferente de estranho. Ela tinha sua expressão habitual abstrata, mas as emoções que residiam mais fundo dentro de seus olhos contavam uma história diferente. Algo estava a preocupando.

[Paai!]. Alguém estava o chamando lá de baixo na língua do império.

Só ao ouvir essa voz, Willem sentiu uma sensação de aperto no peito. Olhando para baixo, ele viu Almaria, ou melhor, algo que assumiu a aparência de Almaria, parada no lado de fora na porta da frente acenando para ele. A sensação em seu peito se transformou em dor. Almaria. Aquele rosto. Aquela voz. Quando os perdeu, ele tinha se entristecido como nunca antes. Ele sofreu tanto tentando aceitar. E, enquanto ele nunca conseguiu esquecer essa dor, mas finalmente, poder diminuir isso o salvou mais do que seus salvadores perceberam. No entanto, agora, ela estava lá, olhando para ele com aquele rosto, chamando-o com aquela voz, como se fosse negar toda a sua luta agonizante nos últimos 2 anos.

[O que você está fazendo aí em cima? O café da manhã está pronto!].

[O que ela está dizendo?]. Nephren perguntou, sendo incapaz de entender o idioma Emnetwyte.

[É hora do café da manhã. Podemos pensar mais depois de comermos].

Nephren assentiu.

[Não se preocupe. A comida que a Almaria faz é deliciosa, pelo menos tão boa quanto a de Nygglatho], disse Willem. [Bem, exceto pela carne]. O conhecimento e a devoção dos Trolls em relação às carnes ultrapassaram as dos Emnetwyte. Embora Almaria fosse uma grande cozinheira, ela nunca poderia vencer contra um Troll quando se tratava de carne, e Willem não gostaria que ela também pudesse. Isso seria simplesmente assustador.

[Eu não estava preocupada com isso].

[Hm? Então, com o que você está preocupada?].

Willem tentou perguntar casualmente, mas Nephren não respondeu. Ela acendeu silenciosamente o Venenum, gerou asas ilusórias cinzas esbranquiçadas nas costas e voou do telhado. As asas das fadas não têm substância física e também têm o privilégio de ignorar as leis da física. As asas de Nephren a levaram até o chão sem um único bater de asas, depois desapareceram tão rapidamente quanto apareceram inicialmente.

Almaria soltou um grito. Sendo uma civil comum, e não uma Brave, aventureira ou cavaleira, ela provavelmente não estava acostumada a ver garotas voadoras. Com um suspiro, Willem coçou a cabeça e acendeu seu próprio Venenum. Então, deixando para trás com um som explosivo, saltou no ar. Suas pernas fortalecidas o impulsionaram para cima com uma força que superou o que um ser humano normal seria capaz. Depois de ajustar ligeiramente sua posição no meio do ar, Willem pousou ao lado de Nephren. Seus sapatos deixaram uma forte marca no chão enquanto eles levantavam uma nuvem de poeira.

[Willem!?].

[Estou bem].

Ele tranquilizou a Nephren preocupada e verificou a condição de seu corpo. Em nenhum lugar em particular doía. Ele tentou saltar para cima e para baixo algumas vezes no lugar, mas ainda não surgiu nenhum problema. O Venenum estava revigorando o corpo de Willem.

Entendo. Willem deduziu que ele e Nephren tinham mantido todas as habilidades que possuíam no mundo real, enquanto perdiam qualquer dano que afligia seus corpos físicos. E sem todas as feridas em seu corpo, Willem agora poderia usar livremente o poder que ele já teve como um Quasi Brave.

[Ah, sim, mais cedo...], disse Nephren.

[Hm?].

[Você nunca me disse que tipo de sonho a Succubus faz].

[Esqueça isso].

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Nos arredores da cidade de Gomag, havia um edifício solitário. Com o nome oficial de Orfanato Comemorativo de Foreigner, foi financiado e construído pelo próprio Nils D Foreigner, o grandioso da 18ª geração Regal Brave. Bem, tinha um nome fantástico e história de fundação, mas o mesmo não poderia ser dito para qualquer outra coisa sobre isso.

Se você tivesse que descrevê-lo com uma palavra, ‘velho’ poderia ter sido uma resposta adequada. Em duas palavras, 'muito velho'. Era um prédio de madeira de 2 andares, cujas paredes e teto mostravam sinais claros de ambas as idades e a incompetência dos carpinteiros novatos que trabalharam nelas ao longo dos anos. Antes que Nils comprasse a propriedade, era uma pré-escola que estava prestes a ser demolida, por isso ostentava tanta história quanto qualquer um dos edifícios de pedra da cidade. Mas, ao contrário deles, tinha um alicerce deplorável e instável que parecia estar pronto para voar a qualquer momento, se uma tempestade atingisse o prédio.

Na época, havia 21 crianças que viviam nesse orfanato administrado de forma privada. Elas viviam uma vida saudável e tumultuada, não sendo oprimidas por adultos inúteis. Willem era um residente do orfanato, embora por cerca de 5 anos ele quase nunca teve a chance de voltar para casa. Seu treinamento para se tornar um Brave, e suas missões, uma vez que ele se tornou um Quasi Brave, não deixou muito tempo livre. Mas ainda assim, ele era um orgulhoso residente do orfanato.

Como todos se reuniram para o café da manhã, muitos dos novos recém-chegados ao orfanato deram uma olhada no homem mais velho e ficaram com medo de seu humor. Mas assim que Willem lhes mostrou aquele sorriso dele, elas relaxaram. Esse tipo de momentos eram as únicas vezes em que aquele rosto dele, que não tinha qualquer solenidade, era útil. As crianças mais velhas (principalmente cerca de 10 anos), que já conheciam Willem, lhe deram uma calorosa recepção.

[Ei! Pai, você está de volta!].

[Ei, me ensine como usar uma espada! Lembra? Você prometeu me ensinar quando voltasse].

[Onde você lutou desta vez? Você matou muitos Elfos?].

Todos se reuniram em torno de Willem e o incomodaram com perguntas.

[Ei pessoal! Fico feliz em ver que todos estão bem].

Uma a uma, Willem abraçou as crianças, esfregou as bochechas e bagunçou seus cabelos. Enquanto ele circulava, as crianças gritavam com entusiasmo.

[Todos se acalmem. É rude causar tanto barulho durante as refeições, não acham?].

Depois de receberem uma repreensão de Almaria, as crianças se sentaram e comeram.

Uma salada amarga com molho agridoce. Essa combinação de sabores, que Willem quase esqueceu, deu um pouco de surpresa a seu estômago.

As coisas que ele queria proteger. O lugar que desejava voltar, para casa que desejava retornar. As pessoas que ele queria encontrar mais uma vez. As vozes que ele queria ouvir mais uma vez. A razão pela qual ele continuou a empunhar a espada na batalha, apesar da falta de talento. Willem não podia realmente dizer que tudo estava aqui. Mas muito do que ele perdeu uma vez, lamentou, e finalmente, desistiu de vez reivindicar estava indiscutivelmente bem na frente dele, sob a forma de uma multidão de crianças. No entanto, nada disso era real. Permitir que os impostores o comovessem emocionalmente praticamente seria uma traição à verdadeira Almaria e aos verdadeiros filhos que se foram 527 anos atrás.

Mas só por estar lá e conversar com eles, Willem não podia deixar de se emocionar. Ele sentiu as lágrimas voltarem a aparecer. Ele queria dar a todos outro abraço. O que aconteceria se ele parasse de tentar suprimir esses impulsos? Como Almaria reagiria se ele de repente lhe desse um grande abraço?

Espera, espera! Eles estão olhando! As criancinhas estão olhando!


Em primeiro lugar, ela provavelmente diria algo assim, mas ela não resistiria fisicamente. Mas mais cedo ou mais tarde...

Nossa. Você cresceu, mas por dentro, você ainda é apenas uma criança.


Ela aceitaria isso. Então, com um rosto ligeiramente aborrecido, mas com uma voz suave e gentil, ela o abraçaria de volta e o confortava. Willem facilmente previu tudo em sua cabeça, mas a cena imaginária o deixou um pouco triste.

[Pai], Almaria chamou ele.

[O que?].

[Por que você está fazendo caretas? É muito assustador].

Willem estava realmente magoado.

[Sempre que você volta para casa, é sempre repentino assim], disse Almaria com uma pitada de aborrecimento em sua voz. [O vovô sempre foi assim também. Agora, eu entendo que os Braves estão ocupados e tudo mais, mas acho que há um limite quanto você pode usar essa desculpa, certo?].

Embora Almaria parecesse reclamar, ela manteve uma expressão alegre e passos leves. Willem sabia que muitas vezes ela tinha dificuldade em ser sincera consigo mesma, então ele não levou suas queixas ao coração. Sentado em sua cadeira, ele olhou para Almaria. Parecia um pouco menor do que lembrava. Depois de um momento de pensamento, ele logo percebeu o porquê. A razão quase o fez querer rir.

O período ridiculamente longo de 500 anos intercalado confundiu seu senso de tempo, mas naquela noite, quando Willem viu pela última vez Almaria, ela tinha 16 anos. Depois de seu sono, ele passou cerca de 2 anos em Règles Ailés. Durante esse tempo, ele ficou mais alto. Mais de 527 anos, Willem sofreu apenas 2 anos de mudança. Fisicamente, ele simplesmente cresceu de 16 para 18. Mas Almaria não mudou nem um pouco. Willem estava apenas vendo sua nova diferença de altura. E isso também serviu como prova clara de que a Almaria que estava aqui era uma farsa.

[... Diga, você percebeu algo estranho em mim hoje?], perguntou Willem.

[Sim], respondeu Almaria.

[O que?].

[O fato de você estar fazendo essa pergunta. Além disso, você está fazendo o mesmo rosto que Falco faz quando está chorando depois de ter um pesadelo, e você parece meio nervoso mesmo que esteja em casa].

É isso? Os pensamentos de Willem ficaram amargos. Mais cedo, ele notou que Almaria parecia menor do que o habitual. Iniciando as perspectivas, Almaria deveria ter percebido que Willem havia crescido um pouco. A verdadeira Almaria sem dúvida teria notado isso e apontado esse fato. O fato de não ter feito isso apenas forneceu mais evidências de que ela era uma impostora.

[Pai]. Uma menina puxou sua manga. [Quem é aquela?].

Nephren, embora incapaz de entender sua língua, ainda podia ver que todos se voltaram para olhar para ela. Ela deu a Willem um olhar interrogativo.

[Você lutou no norte desta vez, certo? Ela é de um daqueles países?].

[Ah...]. Willem pensou um pouco, mas não conseguiu uma explicação decente. [Sim, isso].

[O que está acontecendo?]. Nephren perguntou na língua comum de Règles Ailés.

[Alguém perguntou quem você é. Não posso dizer exatamente a verdade, então entre no jogo].

[... Entendi]. Nephren assentiu e voltou para sua refeição.

[Ela tem um cabelo bonito. É como se fosse quase prateado], alguém comentou.

[Ah... Sim].

Entre as fadas, que muitas vezes possuíam cabelos com cores vivas e brilhantes, Nephren era relativamente normal. Assim, embora as pessoas reconheçam sua cor de cabelo incomum, elas não podiam dizer imediatamente que ela não era humana.

[Então, qual é a história dela?], perguntou Almaria quando trouxe outra tigela de salada. [Desde que você a trouxe aqui de repente, no início, eu pensei que ela precisava ser atendida, mas antes ela voou, não foi?].

[Ah...]

O orfanato operava com o subsídio da cidade de Gomag, mas as crianças não eram todas residentes de Gomag. Elas vieram de todos os lados, apanhadas pelo mestre de Willem, o também fundador do orfanato e seu ‘avô’, durante suas batalhas.

[Não... Ela é mais como... Minha camarada].

[Camarada?], Repetiu Almaria com desconfiança. [Camarada do que?].

[Uma companheira Quasi Brave. O que mais isso poderia significar?].

[Brave!?].

[Mesmo que ela seja menor que nós!?].

[Sério!?].

Todos os meninos imediatamente voltaram sua atenção para Nephren, que recuou de perplexidade. Afinal, ela foi criada no orfanato feminino de fadas. Os únicos homens, além de Willem, que se aproximaram eram os soldados Reptrace do exército. Esta foi provavelmente a primeira vez que chamou a atenção de meninos de uma raça semelhante.

[Ei, vamos ter um duelo!].

[Ei, não é justo! Eu cheguei primeiro!].

Os meninos agarraram os dois braços de Nephren e começaram a arrastá-la pelo corredor.

[Eu realmente não sei o que está acontecendo, mas é como se houvesse um monte de Collons], Nephren murmurou.

Sua voz se apagou quando ela se afastou, e acabou se tornando inaudível para Willem. Essa é uma boa comparação, pensou ele.

[Ei, pelo menos, digam ‘obrigado’ quando terminarem de comer!]. Almaria gritou pelo corredor. Alguns dos garotos voltaram a deram um enérgico ‘obrigado!’. [Nossa, que grosseiro. De qualquer forma, ela é muito pequena... Mas acho que ela pode usar uma das grandes espadas que você me mostrou antes?].

[Sim. Apesar do tamanho do seu corpo, ela é muito mais qualificada para ser um Brave do que eu. Ah, e também, ela parece pequena, mas ela tem em torno da sua idade], disse Willem.

[O que, sério? Eu pensei que ela tinha aproximadamente a mesma idade que Nanette].

Sentada no canto da mesa, Nanette, que acabou de completar 10 anos, assentiu vigorosamente. Willem poderia definitivamente ver por que eles conseguiram essa impressão. Nephren era muito pequena. No entanto, ele decidiu não contar a ela sobre sua pequena conversa.

Paai.

[... Hm?]. Uma voz parecia chamá-lo do nada. [Alguém disse alguma coisa?].

[Hã? Eu disse que ela parece ter a mesma idade que Nanette], respondeu Almaria.

[Não, depois disso. Soava meio distante...].

[Eu também pensei que ela tinha a mesma idade que eu!], Nanette levantou a mão e disse energicamente. Isso provavelmente não foi o que Willem ouviu.

Ah bem. Talvez fosse apenas sua imaginação. Em qualquer caso, ele não podia se dar ao luxo de deixar sua guarda baixa. Estava se modelando para ser um sonho mais problemático do que pensou originalmente. Lembrando-se de que ele estava nas garras de um inimigo desconhecido, e não na segurança de casa, Willem concentrou sua mente e aguçou sua vigilância.

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