V05C04 - NESTE MUNDO CREPUSCULAR, MESMO AGORA - PARTE 03

Parte 03 - Aquela manhã

Naquele momento, Nygglatho foi confrontada com uma decisão de extrema gravidade, do tipo que ela apenas havia encontrado menos de 10 vezes na vida inteira: um sanduíche com fatias grossas de bacon ou um ensopado de leite com fígado de vaca chamo. Qual deveria escolher para o café da manhã?

Ela já sabia que o sanduíche de bacon desse lugar era de primeira qualidade, mas o problema caiu sobre o fato de que ela nunca tinha ouvido falar de uma vaca chamo. O fígado tende a diferir muito de restaurante para restaurante, então, em essência, pedir o ensopado seria um pouco de aventura.

Comer é viver. Escolher o que comer é equivalente a escolher como viver.

[Ughhh...].

Com um rosto muito sério, Nygglatho olhou para o cardápio do café da manhã.

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Naquele momento, Rhantolk estava profundamente pensado. Viajando com os olhos dela na Dug Weapon, pensou e pensou na tentativa de resolver seus problemas de adolescente. O que elas eram? De onde elas vieram, e para onde elas vão? E, uma vez, esse ciclo repetiu uma e outra vez naturalmente. O que elas deveriam fazer?

De repente, foi dito que elas eram fragmentos de um deus, ela, claro, achou difícil acreditar, ao mesmo tempo, por algum motivo, também extremamente persuasivo. Em vez de ganhar novos conhecimentos, ela sentiu como se alguma coisa que estivesse espreitando no fundo do estômago por muitos anos tivesse sido traduzida em palavras. Ela não podia negar isso, mas, o que diabos deveria fazer?

Eu queria ser como a Chtholly, pensou Rhantolk pela primeira vez. Chtholly descartou coisas como a razão pela qual ela nasceu como uma Leprechaun ou a razão pela qual ela tinha vivido até agora e ocupou seu próprio motivo para viver. Ela encontrou essa razão e viveu uma vida adequada. Rhantolk sabia que não era algo para aspirar casualmente, mas, ainda assim, não podia deixar de invejar aquela força.

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Naquele momento, Ithea estava lendo um livro. Para ser específico, ela estava lendo um romance de ficção barato, não relacionado de forma alguma com os importantes livros armazenados na Grande Biblioteca. Ela comprou na livraria da cidade no outro dia. A nova marca, novo 7º volume do ‘O triângulo despedaçado’, como suas prequels, contava às pessoas que dedicavam seus corações à trapaça e adultério em nome do amor verdadeiro.

Mas era exatamente em momentos como esses, lendo histórias tão exageradamente cômicas, que ela podia realmente olhar para si mesma e as outras fadas objetivamente - Era o que estava passando pela cabeça de Ithea. Quase todos os relacionamentos românticos que apareciam no livro acabavam em desastre. Um amor em que encontrar a felicidade é proibido, termina de uma maneira em que ninguém encontra felicidade. Ela sentiu uma estranha sensação de proximidade com esse tema.

[Haha].

A principal personagem feminina encontrou seu 6º parceiro de adultério, contando com o 1º volume. Ele passou a ser um júnior com sua terceira parceira e, talvez tentando criar uma personalidade para si mesmo, sempre colocava um estranho fim em tudo o que ele dizia.

[Sexto cara, eh...], ela murmurou com uma risada. [Se houvesse pouco mais tempo, talvez eu pudesse escapar também...].
 

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Naquele momento, Grick estava na costa oeste da 13ª ilha flutuante, no distrito do porto da Federação Elpis Mercantil. Aparentemente, ele estava lá como um piloto contratado por um influente comerciante de Collinadiluche e, em segredo, ele estava lá para reunir informações sobre os vários grupos comerciais e grandes movimentos de dinheiro no país. Alguém de alta patente na Winged Guard, aparentemente mais alta do que Baroni Makish, pediu-lhe que fizesse o trabalho. Uma vez que a moça de cabelos grisalhos, Nephren, disse que estava bem sozinha, não precisava relutantemente ficar ao seu lado, então ele aceitou.

[Eu não acho que eu sou muito adequado para isso, porém...].

Afinal, por que um salvager que dedicou seu coração aos tesouros da terra deveria estar preso observando alguns estranhos no céu? Ele teve queixas, mas é claro, nenhum homem abandonaria o trabalho que já aceitou.

Suspirando internamente e dando uma olhada, viu alguns rostos curiosos. Alguns comerciantes ricos provenientes de Elpis, mas residentes em Collinadiluche, estavam entrando na 13ª ilha, todos separadamente.

Poderia haver algum tipo de grande conferência? Não, se fosse esse o caso, os comerciantes de outras ilhas estariam aqui também. Por que um monte de comerciantes todos da mesma cidade vem aqui como se eles planejassem se encontrar antecipadamente... Ou talvez eles planejaram antecipadamente.

Os comerciantes quase pareciam pássaros fugindo de um navio naufragando.

[... Não, não pode ser...].

Grick teve um mau pressentimento .

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Naquele momento, Nephren estava a bordo de uma aeronave para a 2ª ilha flutuante.

[Eu conheci sua amiga], disse um velho sem o menor sorriso.

Na reunião com Nygglatho mais cedo, o homem se chamou de conselheiro da Winged Guard. Na verdade, porém, ele não era outro senão o Grande Sábio Souwong Kandel, o criador de Règles Ailés e seu eterno guardião. Após alguma consideração, Nephren percebeu o quão impressionante era se encontrar cara a cara com uma figura lendária. No entanto, sentimentos de admiração não despertaram dentro dela tanto quanto esperava. Provavelmente, ou na verdade, definitivamente, por causa de Willem. Depois de estar ao seu redor por tanto tempo, ela se acostumou com a não incrivelidade de pessoas incríveis e a incrivelidade de pessoas não incríveis.

[Amiga?], perguntou ela.

[Eu não perguntei o nome. Ela tinha longos cabelos azuis e parecia forte por dentro].

[Ah]. Nephren rapidamente entendeu que tinha que ser a Rhan.

[Ela era uma boa garota. Ela estava tentando viver com todas as suas forças].

[?]. Nephren não entendeu o que o velho dizia. Obviamente, um ser vivo vive com todas as suas forças. As Leprechauns não eram diferentes, apesar de não estarem tecnicamente vivas.

Ela ouviu que muitas das suas amigas, além de Nygglatho estavam atualmente em Collinadiluche. No entanto, ela acabou nesta aeronave sem ver nenhuma delas.

[Suponho que você queria encontrá-la?], perguntou o velho.

[Claro. Mas eu entendo por que você não quer me deixar].

Agora que o armazém de fadas havia reunido tanta atenção, se Nephren se aproximasse perto do armazém, sua existência irregular seria descoberta por várias facções. Esse vazamento de informação apresentaria um grande risco que, sem dúvida, afetaria negativamente os desenvolvimentos futuros. Se ela realmente insistisse em encontrá-las, ela provavelmente poderia ter ido em segredo. No entanto, deixando de lado Rhan e Ithea, Tiat e Lakhesh realmente não pareciam que seriam capazes de manter silêncio sobre Nephren para sempre. E, mesmo que fizessem, ela não queria forçá-las a carregar um segredo tão grande.

[Se elas estão bem, então é bom o suficiente], disse Nephren.

[Ahh, tão forte... Eu acho que eu posso chorar].

Nephren golpeou o peixe flutuante que de repente decidiu aparecer.

Do lado de fora da janela, ao longe, Nephren viu um vaso de flor gigante feito de quartzo preto flutuando no ar.

[... Poderia esse objeto interessante ser a 2ª ilha flutuante?].

[Está certa].

[A pessoa que você quer que eu encontre está lá?].

[Correta. Embora ele não seja uma pessoa].

Nephren já leu em um livro sobre uma das poucas regiões isoladas deixadas em Règles Ailés. Chamado de Coração da Árvore do Mundo, supostamente escondia grandes segredos dentro.

[Nossa, que presença nostálgica. Entendo ele está escondido em outro lugar bastante grande].

Nephren golpeou novamente o peixe flutuante.

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Naquele momento, Willem e Elq estavam fazendo compras na mercearia.

A agitação da manhã começou muito cedo na cidade de Collinadiluche. A compra e venda matutina de mantimentos servia como uma das principais causas disso. Numerosas barracas espremidas firmemente em algumas praças, todas exibindo produtos frescos na frente: feijão, legumes, salada, carne, batatas, ovos, pão, gelo, frango, especiarias. E, finalmente, é claro, havia as hordas de clientes, transbordando de energia.

Willem olhou para a lista de compras. Hoje, ele precisava comprar um pouco mais de ingredientes do que de costume, então tomando um momento para pensar, parecia que seria muito mais eficiente do que simplesmente vagar pelas barracas sem um plano.

[Ei, ei Willem! O que é isso? É comida?]. Elq puxou a manga de Willem, apontando para uma barraca com pedras de várias cores para exibição.

[Não é um alimento, está mais para um utensílio. Alguns Reptrace colocam isso em seus estômagos para esmagar seus alimentos em vez de mastigar com os dentes].

[Ohh...]. Elq olhou com olhos cintilantes, como se as pedras fossem gemas preciosas.

[Não tenha ideias engraçadas. Quando se trata de funções corporais, o muro da raça é impiedosamente grosso].

[Aww...].

Elq parecia desapontada, mas não importa o quanto ela implorasse, essa era uma coisa que Willem nunca poderia deixá-la tentar. Pelo menos, isso levaria a um estômago bastante prejudicado. Na pior das hipóteses, isso poderia levar à morte.

[Então... Oh, o que é isso? O que é isso? Também posso tentar?].

[É exatamente isso que parece: madeira. Não vai muito bem com o seu estômago ou o meu].

[Aww...].

Sua voz parecia desapontada de novo, mas seus olhos logo começaram a correr para o mercado, procurando o próximo objeto interessante. Willem achou que seria melhor terminar seus assuntos antes que ela achasse algo muito estranho.

[Ah].

[Hm?].

No entanto, logo que esse pensamento passou pela cabeça de Willem, os olhos de Elq pararam. Seu olhar estava focado não em uma barraca no mercado, mas sim em uma loja normal mais além, uma loja de chapéus velhos. Seguindo seu olhar mais perto, Willem viu que o objeto que chamou sua atenção era um chapéu de abas largas que apareceu pela janela.

[Hm? Você quer isso?], perguntou.

As roupas que Elq agora usava foram aparentemente usadas pela filha de Astaltus em uma idade jovem. No momento, ela também havia pegado emprestado um chapéu cuja cor combinava com sua roupa. Willem pensou que as roupa dela pareciam ficar perfeitamente bem nela, mas, se Elq quisesse estar mais à moda, então ele não queria detê-la.

[Eh... N-não-].

[Não é preciso se segurar. Não é tão caro, posso comprar para você. Como não gasto muito geralmente, eu tenho um pouco guardado].

[Não, eu não quero isso. Realmente, é outra coisa!]. Elq balançou a cabeça rapidamente.

[Entendo]. Foi um pouco infeliz, mas ele não tinha escolha a não ser desistir depois de ouvi-la negar tanto. [Nesse caso, acho que vamos terminar nossas compras sem quaisquer desvios].

[OK].

Mais uma vez, ele partiu entre o mar de pessoas. Elq seguia logo atrás, mas uma vez a cada poucos segundos, ela se virava. Ela obviamente ainda tinha interesse naquele chapéu. Talvez eu devesse comprá-lo em segredo e dar isso como um presente, pensou Willem. Poderia ser difícil encontrar tempo para comprá-lo sem que Elq perceba, mas ele achou que valia a pena tentar.

Então, um momento, sem motivo real, Willem olhou para o céu. Ele viu uma única aeronave de tamanho médio pairando acima. Por si só, isso não apresentava uma cena muito incomum. Afinal, Collinadiluche desenvolveu-se originalmente como uma cidade comercial, tantas aeronaves voavam constantemente dentro e fora do distrito portuário. A qualquer momento, de dia ou a noite, não encontrar qualquer coisa voando pelo céu provavelmente seria mais raro.

Apesar disso, Willem teve uma sensação estranha sobre aquela aeronave que pairava acima. Alguma coisa parecia... Errada. Ele não conseguiu explicar muito bem. Por exemplo, sua altitude era estranhamente baixa, não baixa o suficiente, que arriscaria colidir em qualquer edifício, mas ainda baixa o suficiente para que Willem pudesse distinguir o nome da organização escrito no casco da aeronave. Além disso, esse nome emitiu uma impressão bastante estranha: Ordem do Serviço de Aniquilação Histórica.

O nome soou tão parecido com uma piada que Willem não podia deixar de ler repetidamente. Além disso, por algum motivo, ele sentiu que já tinha ouvido antes. Ele começou a sentir sua cabeça doendo também um bocado. Poderia ter alguma conexão com o passado? Ele queria acreditar que ele nunca pertenceu a uma organização com um nome tão constrangedor.

[Willem? Algo errado?].

Um puxão na manga puxou Willem para fora de seus pensamentos e voltou à realidade. [Ah, não é nada]. Ele voltou o olhar que estava fixado no céu de volta para a terra. [Vamos indo. Se não nos apressarmos, vamos perder toda a boa carne, e Astaltus provavelmente ficará desapontado].

[Não há dúvida acerca disso].

Os dois riram.

- Boom.

[Hã?].

Instintivamente, Willem voltou o olhar para o céu. Ele descobriu que uma fumaça negra brotava do fundo daquela aeronave, da área próxima ao reator de queima de feitiço. Depois de um momento de atraso, alguém soltou um grito e, depois de outro momento, um grito coletivo surgiu da multidão. Em poucos segundos, um pânico estourou. A aeronave perdeu o equilíbrio, sua capacidade de manter-se flutuando estava claramente danificada. Dos olhos de qualquer pessoa naquela cena, era óbvio que a aeronave em breve cairia completamente.

No meio do caos, as ondas de pessoas ameaçavam varrer Elq.

[Fique perto!].

[O-Ok!].

Willem esticou a mão. Seus dedos tocaram, conectando-os enquanto tentavam se mexer.

Então, mais uma vez, ele olhou para o céu. A coluna de fumaça negra só crescia mais, a aeronave inclinou-se para baixo a uma velocidade acelerada, e o corpo da aeronave começou a se deformar, pois não conseguia suportar o peso, enquanto os gritos vindos do chão cresciam cada vez mais altos.

Em seguida, Willem viu. Na parte de trás da aeronave, onde o lastro estabilizador normalmente seria empilhado, uma grande ruptura havia aberta, e de lá alguma coisa, obviamente não eram sacos de cascalho ou de estopa, despejou no céu.

O que é isso?

Devido ao sol, ele não conseguiu ver muito bem, mas ele conseguiu descobrir uma fraca silhueta. Em geral, os objetos tomavam a forma de fitas, ou, para fazer uma comparação, grandes cobras. No entanto, em vez de escamas, inúmeros cabelos como saliências surgiram de seus corpos. Eram animais estranhos. Ou melhor, eram coisas estranhas que ele não sabia se ele poderia chamar de animais ou não. E, por algum motivo, seu nome apareceu na cabeça, como se tivesse brotado do fundo do estômago.

[Não... Não pode ser...].

Aparentemente, Elq tinha viu a mesma coisa e chegou à mesma possibilidade. Willem conhecia essas coisas muito bem. Elas lhe deram lembranças que ele nunca esqueceria. Mesmo com sua memória selada, sua mente e todo o corpo estavam tentando lembrá-lo, aquelas coisas que uma vez, em um sonho distante, roubaram tudo e tudo o que ele considerava querido.

[Aurora...], ele murmurou, de pé congelado em estado de choque.

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